
Argumentos na ponta da
língua
Dias
atrás, fui a uma papelaria copiar um texto sobre direitos
das crianças e adolescentes. Enquanto organizava as cópias,
um rapaz que estava ao lado, vendo minhas dificuldades com o calhamaço
de papéis, se ofereceu para ajudar. Logo
depois, lendo o título do texto, perguntou se eu trabalhava
com crianças e adolescentes, e educadamente comentou que
era contra o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) porque
“é uma lei que protege os criminosos”, acrescentando, “por
causa dessa lei os menores de 18 anos podem matar e roubar porque
sabem que não vai acontecer nada com eles”. Ele
falava e eu avaliava a situação: poderia argumentar
que o ECA não é uma lei que “protege os criminosos”,
explicando que o estatuto prevê vários níveis
diferentes de medidas, desde a simples repreensão até
o internamento em instituições sócio-educativas
para os casos mais graves, mas que ainda não é aplicado.
Poderia esclarecer
sobre o verdadeiro conteúdo do ECA, demonstrando que não
garante a impunidade, ao contrário, autoriza que o
juiz, verificando que o infrator exige uma internação
mais prolongada, determine uma privação de liberdade
maior que a prevista no Código Penal para o mesmo delito.
Ainda poderia falar
sobre a superioridade das soluções jurídicas
dadas pelo ECA, acompanhando a evolução da ciência
criminal que já constatou a ineficácia de um sistema
penal baseado na espiação da culpa, como o que ainda
é adotado para os maiores de 18 anos. Portanto,
sabia que tinha inúmeros argumentos que, certamente, alterariam
o ponto de vista daquela pessoa que dizia de forma categórica
“sou contra essa lei porque ela protege os criminosos”, mas eu tinha
contra mim uma coisa apenas: a falta de tempo. Dali a alguns minutos
estaria numa reunião. Acredito
que muitos que trabalham com crianças e adolescentes já
tenham vivido situação parecida. Portanto, para que
o ECA não se torne papel amassado e jogado no lixo, precisamos
ter na ponta da língua argumentos rápidos para combater
idéias equivocadas. Com este intuito, a partir desta edição,
abrimos espaço para profissionais de diferentes áreas
digam o porquê são contra a redução da
idade penal e a favor do ECA.
Mai/2000.
Paulo Augusto
André Balthazar advogado e integrante
do Projeto Quixote |
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